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Palavras do Coração Franciscano 33
A graça do silêncio
Frei Rogério Viterbo de Sousa, OFM
Quanto barulho inundando nossa mente, coração e alma! É tanto barulho, que estamos desaprendendo a arte de ouvir a Deus. Estamos nos acostumando, infelizmente, a viver na era do infernal barulho. O ser humano está quase
conseguindo eliminar o silêncio de sua vida. “O silêncio é uma das grandes artes da conversa”, já dizia o orador romano Cícero.
Se não bastasse o barulho externo, por vezes, existe o barulho interno, feito de tantas preocupações que cultivamos em nossa mente e em nosso coração. A falta de silêncio está acabando com a paz dentro de nós, e não é só isso, está pondo um fim à capacidade de fazermos uso da fala reflexiva. Basta ver a quantidade de superficialidades e inutilidades postadas diariamente nas redes sociais e também o nível de conversas nada edificantes.
O silêncio nos faz entender que, quanto mais pensamos, menos vamos falar de coisas de que nada se aproveita. E quando falamos, falaremos algo que seja, realmente, mais proveitoso que o próprio silêncio, naquele momento. O silêncio nos ensina que falar demais é pensar sempre menos.
Precisamos reaprender o dom de silenciar e fazer do silêncio nosso grande conselheiro. “O silêncio permite que as águas barrentas de nossas mentes se esclareçam” (poetisa italiana Rosa Bellino). “Na atitude de silêncio, a alma encontra seu caminho sob uma luz mais clara, e o que parece incerto e enganoso é resolvido com clareza cristalina” (Mahatma Gandhi).
O silêncio nos ensina a pensar no que vamos dizer, antes mesmo de abrirmos a nossa boca. Ensina-nos, também, que, se não temos nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada. Desta maneira, aprendemos o quanto é importante ter momentos de silêncio interno para uma melhor compreensão de tudo e assim poder
tomar decisões que sejam acertadas e ter palavras que sejam edificantes.
Precisamos do silêncio neste nosso tempo repleto de barulho. Com o barulho, o nosso coração se acomoda, se anestesia e desaprende a ouvir o essencial. Sem o silêncio, a nossa criatividade diminui, os nossos sonhos se esvaem e nós nos tornamos incapazes de sequer escutar os apelos contínuos do coração de Deus a nos falar.
Para o bem da nossa vida, é mister saber ouvir a Deus. O Santo Padre Bento XVI já acenava para nós durante o seu pontificado a importância do silêncio: “O silêncio é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus, para que a sua Palavra permaneça em nós, a fim de que o amor por Ele se arraigue na nossa mente e no nosso coração, e anime a nossa vida”1.
Jamais devemos nos esquecer que a falta do silêncio em nossa vida vai tornando-nos pouco a pouco pessoas vazias, que não conseguem aprofundar nada e nem perceber a nossa própria superficialidade. Nosso mundo já decretou o fim do silêncio e nos oferece o barulho como prêmio a nos perturbar incansavelmente. Aprisionados em
nossos vazios, acostumados com a superficialidade e com conversas feitas de palavras sem sentido, já não sabemos quem somos, para onde andamos e o que queremos.
Sendo assim, podemos concluir que se torna para nós indispensável a graça do silêncio, para ouvirmos a Deus e descobrirmos o que Ele está a nos dizer. Sem a escuta de Deus não conseguiremos compreender a nossa realidade e nem seremos capazes de abrir o nosso coração para Ele, para acolhê-lo, para ouvi-lo e entrar em sintonia com sua santíssima vontade.
Se não sabemos ouvir a Deus porque nos falta a capacidade de fazer silêncio, não saberemos nunca ouvir os nossos semelhantes, que tantas vezes precisam do nosso amor transformado num silêncio capaz de acolher e de compreender.
Desejo que minhas humildes palavras, talvez, lhes sirvam para um bom momento de reflexão. Se assim for, Boa reflexão, então!
Convento São Francisco, Campo Grande, MS, 02 de março de 2021